domingo, 30 de setembro de 2012

Meu primeiro amor homossexual

Meu amor pela música de concerto começou na minha infância e na Rússia. Eu ouvia de tudo, mas me emocionava mesmo era com os russos. Eu era acometido de um frenesi emocional sempre que ouvia as Danças Polovtsianas com orquestra e coro da ópera O Príncipe Igor, de Borodin. Até hoje não entendo porque aquilo me afetava tanto. Eu era apaixonado por Murssogsky (Uma noite no monte Calvo é demais, por exemplo), Rimisky Korsakov e mais uma lista grande de compositores russos. Quando consegui meu primeiro emprego de office-boy, a primeira compra que fiz foram 2 discos de vinil, em São Paulo: Scheherazade de Korsakov e Pretushka de Stravinsky.

Mas o meu compositor preferido mesmo era Tchaikovsky. As músicas dele eram transcendentais demais para mim. Até fiquei um pouco chateado quando, anos mais tarde, descobri lendo que a música dele foi muitas vezes interpretada como cafona. Depois da minha paixão pelos russos, ampliei meus horizontes musicais de forma bastante ampla, primeiro pelo Europa, sempre a partir do romantismo, depois classicismo, barroco e período mais moderno, nessa ordem, por fim, o novo mundo e o restante da música universal.

Mas, se eu tivesse que escolher o compositor que mais me marcou profundamente, não titubearia: Tchaikovsky. Suas melodias e seus contracantos sempre me tocaram profundamente a alma e, depois que conheci o barroco, eu sempre dizia para mim mesmo que Tchaikovsky era o mais barroco dos compositores românticos, justamente por conta dessa amalgamação entre melodia e contracantos. Fiquei feliz quando, anos mais tarde, li na revista colombiana elmalpensante em uma reportagem traduzida da revista The New Yorker a defesa da mesma ideia.

Minha profunda admiração por Tchaikovsky ficou ainda maior quando descobri que ele foi um homossexual. Minha primeira reação foi: “Está explicado! Somente um homossexual poderia ter tanta sensibilidade assim!”. Quando vi a resenha do livro lançado recentemente no Brasil e que parece ser a biografia mais completa já escrita sobre ele, resolvi comprá-lo e lê-lo o quanto antes: Piotr Tchaikovisky: Biografia, de G. Ermakoff, com tradução de Alexey Lazarev: http://oglobo.globo.com/cultura/biografia-detalhada-de-tchaikovsky-chega-ao-brasil-6214789

Para finalizar, há um detalhe na minha história que me remete à biografia de Tchaikovsky, apenas por uma circunstância parecida: ele manteve uma relação de amizade durante anos de sua via com sua mecenas Nadejda Von Meck, sem nunca jamais tê-la encontrado pessoalmente. Eu também mantenho uma amizade que remonta meus aos meus quinze anos, quando as pessoas se comunicavam por meio de cartas, e que dura até hoje com uma garota que vi pessoalmente apenas uma vez na vida. Não há qualquer tipo de ligação financeira, nem nada, apenas amizade. Mas essa característica de termos essa amizade até hoje, sem previsão para arrefecer, apesar da distância e da falta de contato físico, sempre me pareceu uma relação bem tckaikoviskyniana.

6 comentários:

  1. Agora você me instigou a ouvir mais Tchaikovisky.

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  2. Pode ouvir, Hernan. Tchaikovksy é para pessoas sensíveis.

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  3. Lindo Obadias... Também gosto muito de Tchaikovsky.

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  4. Que bom, Leila. Taí algo que temos em comum... bj.

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  5. Eu diria que isso, além de tckaikoviskyniano, é também psicanalítico :-).

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  6. Pois é, Sandra. Eu costumo dizer que o melhor que a gente leva dessa existência são os amigos. Grande beijo.

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